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Aprendizado para toda a vida

Aprendizado para toda a vida

Pense em um jovem construindo pela primeira vez um site de internet ou colorindo um grande painel público por meio de sprays de grafite. Imagine conhecer, também de forma inédita, o MASP (Museu de Arte Moderna), a USP (Universidade de São Paulo), o Museu da Língua Portuguesa e o icônico Beco do Batman na Vila Madalena.

Experiências como essas enriqueceram a vida dos alunos do Projeto Jovens Caminhos, desenvolvido em 2023 e 2024 por meio de parceria entre Instituto GEA e Petrobras Socioambiental e que beneficiou gratuitamente 216 jovens e adultos moradores da periferia de Mauá e Santo André, na Região Metropolitana de São Paulo.

Mais do que aulas técnicas, porém, esses jovens tornaram suas vidas maiores e melhores com aprendizados sobre Ética, Cidadania e Meio Ambiente, temáticas também presentes no currículo dos cursos de Artes-Grafite e de Programação-Criação de Sites.  A atenção e tensão das aulas teóricas sempre ganharam contornos descontraídos nos trabalhos de campo e em diversas visitas culturais.

Foram amizades e um aprendizado que deixarão saudades.

Impacto social

O Jovens Caminhos ofereceu quatro cursos de Tecnologia com seis meses de duração cada, além de oito cursos de Grafite, com três meses de aulas em cada edição. O objetivo foi oferecer qualificação profissional para que esses jovens e adultos possam se inserir no mercado profissional ou empreender individualmente.

O impacto foi engrandecedor junto às comunidades periféricas de Mauá e Santo André — uma imensa junção urbana de duas cidades populosas do ABC paulista e onde a Petrobras tem unidades de refino. Santo André soma 780 mil habitantes e Mauá, 425 mil. Por isso, também, foi vital o apoio das Associações de Moradores e das Prefeituras locais, cedendo locais para realização de aulas e infraestrutura operacional.

A mobilização social das 11 comunidades atingidas também pode ser medida pela interação dos alunos com a população do entorno. As turmas de Grafite deixaram mais alegres e coloridos pelo menos 16 muros das escolas e vizinhanças, requalificando esses espaços com arte cuja temática enfatizou os cuidados com o meio ambiente.

Na TI, muitos alunos seguiram o aprendizado cursando, também gratuitamente, uma especialização em Phyton no Programa Paideia, do LASSU – Laboratório de Sustentabilidade da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, também parceiro do projeto.

Documentário Jovens Caminhos: muitos desafios e superação

Documentário Jovens Caminhos: muitos desafios e superação

Todos saíram, sem dúvida, maiores do que entraram no Projeto Jovens Caminhos, parceria entre Instituto GEA e a Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental. Foram mais de 200 jovens e adultos que, num desafio diário de superação, se provaram mais fortes do que pareciam e mais preparados do que imaginavam.

“No começo, tinha dificuldades até em ligar um computador”, diz uma das alunas de Programação, que, ao final, criou um site completo de internet como trabalho de conclusão de curso. Outra formanda foi além, desafiou-se e fez a especialização em Phyton oferecida gratuitamente pelo Programa Paideia da Universidade de São Paulo, outro parceiro do projeto: “Já saí estagiando na área”, diz, entusiasmada.

Neste documentário, alunos e professores contam as experiências que trocaram e vivenciaram durante dois anos, em 2023 e 2024, de desenvolvimento dos cursos de Artes-Grafite e de Programação-Criação de Site, oferecidos para moradores das periferias de Santo André e Mauá, na Grande São Paulo.

“O mais emocionante é que alguns nunca saíram de suas cidades e tiveram oportunidade de abrir o olhar e conhecer o mundo”, fala a professora Maluh Barciotte, de Ética, Meio Ambiente e Cidadania, sobre os passeios de campo por museus, espaços culturais e USP.

“No Beco do Batman pudemos admirar todos os tipos de traços de grafite”, surpreendeu-se outra aluna. O monitor e artista Rodrigo Smul, do curso de Artes-Grafite, diz que o propósito dessa arte é se apropriar do espaço urbano e se sentir pertencente à comunidade.

A Professora Tereza Cristina de Brito Carvalho, coordenadora do Laboratório de Sustentabilidade da Poli-USP, testemunha como os estudos modificam comportamentos:

“A importância do Jovens Caminhos foi mostrar que, quando se estuda, um mundo de oportunidades se abre. Temos que acreditar na nossa capacidade de ser, fazer, acontecer”.

A presidente do GEA, Ana Maria Luz, endossa: “A parceria com a USP foi fundamental, sem a qual não teríamos o conhecimento técnico que pretendíamos passar”. Acompanhe o documentário aqui:

Muro da USP agora tem o “dedo de Deus” em grafite

Muro da USP agora tem o “dedo de Deus” em grafite

Uma releitura da Criação de Adão, um dos afrescos mais conhecidos da humanidade e pintado por Michelangelo em 1511, agora ilustra o muro lateral do LASSU (Laboratório de Sustentabilidade da Escola Politécnica da USP). A ação foi realizada em janeiro de 2025 por alunos do curso de Arte-Grafite do Projeto Jovens Caminhos, uma parceria entre Instituto GEA e Petrobras, Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental e que teve apoio também do LASSU.

A temática da integração ser humano e tecnologia foi inspirada no trabalho que a professora Tereza Cristina de Brito Carvalho, coordenadora, desenvolve no Laboratório de Sustentabilidade da Poli-USP. A partir da criatividade dos artistas grafiteiros Gustavo Ramos e Diego Fagundes, a conhecida “mão de Deus” de Michelangelo, que tenta alcançar o dedo de Adão, para lhe dar a vida, foi reproduzida na forma de uma mão de robô aproximando-se de uma mão humana.

Este foi o 17º painel grafitado pelos alunos do Jovens Caminhos, desenvolvido em 2023 e 2024 nas cidades de Mauá e Santo André e que ofereceu cursos gratuitos de iniciação profissional nas áreas de Artes-Grafite e de Programação-Criação de Sites.

Os 16 muros anteriores foram grafitados em espaços públicos nas próprias comunidades onde se realizaram as aulas do Jovens Caminhos. Com a experiência da USP, o encerramento se deu com chave de ouro, nas palavras de Ana Maria Domingues Luz:

“Quando planejamos o Jovens Caminhos, pensamos o que seria conveniente para aquelas comunidades: arte, que é algo que atrai jovens, e tecnologia, que está na moda e por que todos se interessam. Precisávamos dar o máximo de excelência e daí vieram a parceria com o LASSU da USP, que nos cedeu professores para o curso de programação, e com grafiteiros que já trabalham na área, que têm essa arte urbana no sangue e pensam como nós, em como ajudar o meio ambiente e fazermos um mundo melhor”, afirmou.

Segundo professora Tereza Carvalho, do LASSU-USP, foi uma alegria e emocionante acompanhar a frente de Artes-Grafite finalizar o curso com a pintura do muro do LASSU: “Foi um processo de três dias. Primeiro, só o fundo; depois os contornos, e então surge esta obra-prima. Ficou maravilhoso. Que traga uma reflexão para a sociedade sobre o papel da tecnologia e da humanidade, como as duas coisas podem caminhar no sentido de elevar o ser humano para o belo e para o bom”.

Construindo novas perspectivas de vida

Por Tereza Cristina Carvalho*

Estamos vivendo num período de muita turbulência. Mudanças climáticas e transformação digital têm nos trazido novos desafios, que nem sempre estamos preparados para enfrentar. Nossas vulnerabilidades são muitas e vão desde situações emergenciais até a necessidade de criarmos novas formas de trabalho e sustento.

Refletindo sobre as novas formas de trabalho, sabemos que, no Brasil, 76% da população não tem habilidades digitais básicas (segundo censo de 2022 do IBGE) e está totalmente despreparada para essa nova realidade digital. Enfrentam grandes dificuldades para usarem os serviços digitais do governo, do mercado de trabalho, dos bancos, dos supermercados, da área de entretenimento e outros.

Estamos falando de letramento digital, uma habilidade essencial que parte da população brasileira precisa adquirir para acessar os serviços da sociedade moderna. Depois de passar por esse processo de letramento digital, portas se abrem para novas perspectivas. Fica mais fácil procurar emprego e pensar no que é possível fazer para criar novas oportunidades de vida.

Com essa perspectiva, em 2022, foi iniciado o Projeto Jovens Caminhos, desenvolvido pelo Instituto GEA em parceria com LASSU da Escola Politécnica da USP, com financiamento da Petrobrás. O projeto foi implementado em comunidades das cidades Santo André e Mauá, em São Paulo. Santo André tem um IDH igual a 0,835 e é a 5a. maior cidade do estado de São Paulo, com 748 mil habitantes, enquanto Mauá tem um IDH igual a 0,781 e é a 11ª maior cidade do estado, com 418mil habitantes. Foram selecionadas para fazer parte deste projeto comunidades com maior vulnerabilidade social em termos de renda per capita e taxa de analfabetismo.

O projeto teve duas vertentes: uma de letramento digital e outra de arte urbana, ambas com o objetivo de promover a inclusão social e criar novos caminhos para geração de renda. Para ambas as vertentes foram também oferecidos cursos de Cidadania e Sustentabilidade e Orientação de Carreiras.

No caso da vertente de letramento digital, foram oferecidos cursos de 72 horas sobre informática e programação web básica para quatro turmas, totalizando 94 alunos. É interessante observar que 57,4% eram meninas, uma proporção incomum em cursos de tecnologia, geralmente dominados por público masculino.  Na vertente de arte urbana, foram oferecidos cursos de 32 horas sobre pintura urbana (grafite) e decoração/pintura de camisetas para oito turmas totalizando 100 alunos, sendo 64% meninos.

Como resultado do programa de letramento digital, cerca de 20% dos alunos interessaram-se pelo Programa Paideia – Pró-profissão em TI – Python, oferecido pela USP, para dar continuidade aos estudos sobre tecnologias digitais. Outros alunos do programa optaram por ingressar em outros cursos, incluindo de nível superior, para consolidar a formação em Tecnologias Digitais e ingressar no mercado de trabalho como profissional de programação computacional.

Na vertente de arte urbana, os alunos participaram de aulas práticas de pintura de grafite em áreas externas das comunidades onde residiam, em Santo André e Mauá. Alguns alunos foram convidados para executar trabalhos em outros locais. Um destaque foi o painel que os alunos pintaram na própria Cidade Universitária da USP (campus principal), com a participação de professores do programa e quatro alunos (vejam as fotos).

Os resultados deste projeto evidenciam o potencial dos jovens para se tornarem protagonistas de suas vidas e construírem novas perspectivas por meio do estudo e do aprendizado de habilidades valorizadas no mercado. É essencial criar oportunidades com engajamento efetivo desses jovens, para que eles possam assumir esse potencial e receber suporte inicial nessa nova jornada, abrindo horizontes de crescimento e realização profissional e pessoal. Essa é a materialização prática dos princípios de ESG (Environmental, Social and Governance).

Conheça mais sobre o Projeto Jovens Caminhos aqui.

* Tereza Cristina Carvalho é Professora Associada da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EPUSP) e Coordenadora do LASSU-PCS-EPUSP.

Arte-Educação: Cultura e Autonomia

Por Murilo Giaccheri,

Contrária às perspectivas tecnicistas e utilitárias, a concepção de uma educação voltada para a formação crítica e autônoma dos educandos tem sido o principal mote do Projeto Jovens Caminhos. Uma realização do Instituto GEA – Ética e Meio Ambiente, que conta com a parceria do Lassu- Laboratório de Sustentabilidade da Escola Politécnica da USP e é desenvolvido com recursos da Petrobras, o projeto oferece cursos profissionalizantes em duas áreas do conhecimento: Programação/Desenvolvimento de Sites e Arte-Educação/Grafite, em onze comunidades periféricas dos municípios de Mauá e Santo André, somados a um programa de oficinas pautadas pelas temáticas contemporâneas de cidadania, meio ambiente, valores éticos e direitos humanos. Tendo como finalidade a qualificação profissional dos alunos, jovens a partir de 16 anos e adultos das comunidades atendidas, as oficinas de cidadania realizadas ao longo dos cursos acrescentam a conscientização socioambiental à mera capacitação técnica, buscando formar profissionais capazes de se reconhecerem no mundo como agentes transformadores.

Neste artigo, trataremos em especial do curso de Arte-Educação/Grafite, pelo seu ineditismo e fortalecimento da Cultura das Ruas.

Nesse escopo, o curso de Artes, especializado em Grafite, apresenta uma série de pontos que contribuem metodologicamente para a prática de uma pedagogia crítica, autônoma e transformadora, utilizando as artes como principal vetor. Este artigo contemplará a exposição e análise dessa metodologia, propondo reflexões relevantes para projetos e iniciativas similares.

“Quando o homem compreende a sua realidade, pode levantar hipóteses sobre o desafio dessa realidade e procurar soluções. Assim, pode transformá-la e o seu trabalho pode criar um mundo próprio, seu Eu e as suas circunstâncias.” [1]

O curso de Artes e Grafite do Projeto Jovens Caminhos contempla um programa de 12 aulas, capaz de atender a todos os níveis, desde iniciantes até alunos que já dominam técnicas de desenho mais avançadas. As aulas misturam teoria e prática, passando por conceitos básicos como a criação de letreiros na estética característica do grafite, até técnicas mais complexas, como a criação e conceitualização de personagens, representações da anatomia humana, técnicas de perspectiva e dimensão. No aspecto técnico, o curso é pensado para o desenvolvimento das habilidades artísticas tradicionais dos alunos, visando a transição para o uso prático do spray, característico do grafite.

Ao analisarmos os princípios pedagógicos do Projeto Jovens Caminhos, o curso de Artes destaca-se já em um ponto inicial. Por que um curso voltado para o Grafite, especificamente? No planejamento do projeto, as opções eram vastas. Mas, se considerarmos o caráter de formação popular proposto, a escolha de um curso de Grafite, em detrimento de outras formas artísticas já é esclarecedora dos princípios do projeto. Se seguirmos os preceitos de Paulo Freire, um dos pilares de seu pensamento acerca da educação emancipatória é o respeito à autonomia do educando, valorizando também suas culturas, saberes e repertórios sociais. Em sua obra, “Pedagogia da Autonomia”, Freire defende que a figura do professor democrático deve conhecer a realidade dos estudantes, para que o processo de aprendizado dialogue com suas necessidades e desejos.

“Por isso mesmo pensar certo coloca ao professor ou, mais amplamente, à escola, o dever de não só respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo os da classes populares, chegam a ela – saberes socialmente construídos na prática comunitária – mas também, como há mais de trinta anos venho sugerindo, discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses saberes em relação com o ensino dos conteúdos.”[2]

Conforme o autor Celso Gitahy, se buscarmos as principais características da expressão artística do grafite, teremos que trata-se de um movimento surgido nas ruas, de caráter democrático, crítico e subversivo, voltado para as grandes massas. Em suas palavras, é uma expressão que “democratiza e desburocratiza a arte, aproximando-a do homem, sem distinção de raça ou de credo”, que “apropria-se do espaço urbano a fim de discutir, recriar e imprimir a interferência humana na arquitetura da metrópole”[3].

De expressão multicultural, o Grafite busca reapropriar não apenas a cidade, como a Arte em si, tornando-a acessível para todos. Suas origens estão vinculadas ao movimento hip-hop e a expressões populares de contestação, como a pixação. Trata-se de um movimento notoriamente ligado à cultura popular periférica, que ainda nos dias de hoje, é uma forma de Arte ainda contestada e alvo de preconceitos. Mas, sem dúvida, é uma expressão cultural já consolidada na cultura popular urbana, principalmente entre os mais jovens. Além de seu potencial transformador, o fato do grafite ser pertencente ao repertório cultural das comunidades atendidas pelo projeto é um ponto importantíssimo para que a formação desses jovens se dê de forma autônoma e livre. Os alunos se reconhecem nessa forma de expressão, nos professores e nos preceitos do movimento, e isso influencia de forma definitiva não apenas o processo pedagógico, mas a autoestima dos educandos, enquanto artistas em formação.

Acrescente-se o fato de que os professores do curso são eles próprios grafiteiros, oriundos da periferia do município de São Paulo, o que contribui para ampliar nos alunos o sentido do pertencimento e de acolhimento.

O depoimento de Vinícius, aluno de 26 anos que iniciava sua carreira como designer gráfico, expressa essa relação da cultura popular com o grafite, no meio das Artes.

 “Sou designer gráfico e ilustrador e foi maravilhoso participar do curso de grafite, em que eu ainda não tinha trabalhado. Eu sempre fui de “quebrada” e não tinha essa formação, o que chega a ser hilário. Eu sempre trabalhei com o digital, mas a arte que realmente conversa comigo (grafite), só agora que eu fui me iniciar, depois de um pouco mais velho.”

Vinícius,  durante atividade prática de grafite.

Acreditamos que a formação artística, assim como qualquer forma de fomento à cultura, quando parte de uma forma de expressão familiar aos alunos, e portanto pertencente aos seus universos culturais, auxilia a quebrar as barreiras que separam o aluno do professor, o conhecimento acadêmico do popular, ou então, as galerias de arte das ruas. Esse processo corrobora a metodologia de uma educação democrática, capaz de tornar o educando um agente ativo da educação. Essa forma de pedagogia é capaz de empoderar os alunos, principalmente no escopo da arte-educação, interferindo diretamente em sua autoestima, durante a formação de suas identidades.

“O curso de Artes e Grafite me mostrou muitas coisas que eu antes imaginava impossíveis. Em questão da minha carreira, de verdade, o apoio e a luz que os professores me deram, me dizendo: “realmente, você consegue!”, foi uma mudança de chave na minha cabeça, onde eu comecei a ver as coisas como oportunidades. Oportunidades de mostrar minha arte, não apenas pelo dinheiro, mas como forma de me expressar e mostrar pras pessoas quem eu sou, me destacando pela minha arte. Isso foi muito importante pra mim, no (curso do) GEA. Antes, eu nem pensava em fazer uma faculdade nessa área, agora eu cogito esse rumo, porque eu estou vendo que consigo seguir essa carreira, em algo que sou realmente apaixonada em fazer. Então o curso mudou muito a minha forma de enxergar o mundo, principalmente através da Arte. Hoje eu vejo que a Arte pode sim ser transformadora, pode ser uma carreira e é de fato uma profissão que as pessoas devem respeitar”.[4]

 Aluna Gabrielle durante finalização do mural de grafite da turma 06, na região de Jardim Rina – Santo André.

Do ponto de vista da arte-educação, o potencial metodológico do grafite na formação de agentes transformadores está posto. Por essência, trata-se de uma arte de intervenção direta no espaço urbano, ressignificando valores artísticos hegemônicos e principalmente propondo mensagens de mudança, quase sempre carregadas de uma crítica social. Para potencializar esse pressuposto, as oficinas de cidadania do projeto serviam para um espaço de debates sobre questões-chave do meio ambiente e sociedade, onde os alunos eram convidados a participar ativamente das discussões,sobre temas variados, como os hábitos de consumo desenfreados da sociedade capitalista, a valorização dos Direitos Humanos, a necessidade de preservação da água, o acesso – ou falta de – ao saneamento básico, a questão de resíduos e outras temáticas da preservação ambiental. Nessa multidisciplinaridade, que dialogava com o curso , as turmas se expressavam conforme seus próprios anseios e demandas, transmitindo suas reivindicações para os murais de grafite.

Os murais de grafite, desenvolvidos nas próprias comunidades, tinham vários objetivos. Não só permitir que os alunos efetivamente se expressassem e deixassem sua marca no espaço urbano, mas também previam a divulgação de mensagens aprendidas nas oficinas de cidadania e que tinham sido percebidas por eles como temas importantes a serem ressaltados. Além disso, a realização dos murais de grafite se propunha a embelezar e valorizar os espaços desses bairros periféricos.

Dessa forma, acreditamos que o uso do grafite na arte-educação, aliado às perspectivas da pedagogia crítica freireana, que busca a libertação dos indivíduos e os auxilia na luta pelos seus direitos enquanto cidadãos, se revela uma ferramenta potente para a formação não apenas de artistas, mas de agentes transformadores da sociedade, seja em ambiente escolares, como em projetos e cursos de formação como o Jovens Caminhos. Vimos que, para além da capacitação técnica, a utilização de uma pedagogia que abrace a cultura popular é crucial para a formação da identidade dos alunos, que podem desenvolver a consciência crítica necessária para os enfrentamentos do mundo contemporâneo.

Turma de Santo André, após término do último mural de grafite.

Murilo Giaccheri Ceglauskis,

Bacharel em História pela Universidade de São Paulo.


[1] FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 12. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1983, p.16.

[2] FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 25. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996, p.31

[3] GITAHY, Celso . O que é Grafite. 1. ed. São Paulo: Brasiliense, 1999, p.18

[4] Depoimento da aluna Gabrielle, de 16 anos.

Quando o protagonismo move montanhas

Por Raquel Lima Ramos,

coordenadora do Projeto Jovens Caminhos

Expoente mundial quando o assunto é educação, Paulo Freire foi um entusiasta do protagonismo do aluno no processo de aprendizado. Ele critica o modelo tradicional que chama de “educação bancária”, onde o professor deposita conhecimento nos alunos de forma passiva. Em vez disso, Freire propõe uma “educação problematizadora”, onde os estudantes são incentivados a questionar, refletir e participar ativamente do seu próprio aprendizado.

Não é outro o princípio que move o Projeto Jovens Caminhos senão esse em que Freire defende a educação como um ato de liberdade e transformação social. A cada aula, a cada trabalho de campo, a cada interação aluno-professor ou aluno-aluno, os jovens e adultos são vistos como sujeitos ativos, capazes de transformar a realidade ao seu redor.

“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua própria produção ou sua construção”. Freire, Paulo. Pedagogia da Autonomia, 1996.

Os cursos de Arte-Educação e Grafite e de Programação e Criação de Sites do Projeto Jovens Caminhos tornaram-se possíveis graças a uma parceria entre Instituto Gea e Petrobras. Os cursos de Tecnologia da Informação contam ainda com a parceria do LASSU – Laboratório de Sustentabilidade da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Os cursos proporcionam um ambiente acolhedor e propício para que o jovem possa aprender e errar, mas sem ter medo ou vergonha de seu erro. Entendemos que o erro também é uma forma de aprendizado

Um ponto importante é que os professores disponibilizam em plataformas acessíveis todos os materiais e exercícios. Assim, o projeto estimula a ir além dos conteúdos apresentados em aula e a construírem, os próprios alunos, suas jornadas.

Outra influente educadora brasileira, Maria da Graça Nicoletti Mizukami, destaca a importância do protagonismo discente enfatizando que o professor deve atuar como um facilitador do conhecimento, respeitando o aluno como ele é e compreendendo seus sentimentos. O aluno é visto como sujeito ativo no processo de aprendizagem, elaborando e criando conhecimento por meio de suas experiências e interações com o meio.

O depoimento de Isabelle Alves da Silva, de 18 anos, moradora do Parque São Rafael, em São Paulo, mostra como é possível ganhar confiança e autonomia. Ela fez o curso de Programação e Criação de Sites, do Projeto Jovens Caminhos, agora cursa o programa do Paideia, uma especialização gratuita oferecida pelo parceiro do projeto, o LASSU.

“O curso do Jovens Caminhos me deu uma nova visão da Tecnologia, de que não é tão difícil, basta ter paciência e perseverança. Foi incrível para mim! Não tinha noção de nada sobre programação. As aulas mais interessantes eram as que envolviam a parte prática, como cálculos ou testar algum código”, disse ela ao portal do Instituto Gea.

E continuou: “Com o curso do Paideia, eu tenho planos de ingressar firme no mercado de trabalho e também saber mais sobre linguagem Python. Concluí o ensino médio e o próximo passo é a faculdade. Vou focar em ADS (Análise e Desenvolvimento de Sistemas). Creio que é uma das melhores opções para quem está começando”.

Acesso fácil e apoio

Sem dúvida, os pontos fortes do Projeto Jovens Caminhos estão não apenas na disponibilidade dos exercícios e leitura, mas também no acesso fácil aos professores e no apoio da monitoria aos alunos.

A literatura é generosa em difundir formas de promover o protagonismo do discente na aprendizagem. Mas algumas tocam mais de perto o Projeto Jovens Caminhos, entre as quais as Metodologias Ativas. Trata-se de princípio que coloca os alunos no centro do processo, incentivando-os a pesquisar, discutir e apresentar soluções para problemas reais.

“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”. Freire, Paulo. Pedagogia do Oprimido, 1987.

Fazer dos alunos os figurantes principais em sala de aula envolve várias estratégias que incentivam a participação ativa e sua autonomia. Outra metodologia ativa adotada com profundidade pelo Jovens Caminhos está nos Ambientes Flexíveis. Ou seja, na criação de espaços que vão além da sala de aula tradicional, utilizando áreas externas, laboratórios e passeios de campo para atividades práticas e colaborativas.

Foi assim com as visitas ao Centro de Reciclagem do LASSU, na USP, onde aprenderam a importância de se ter uma consciência coletiva a respeito de reaproveitamento de materiais e descarte correto de resíduo eletroeletrônico. Lições de cidadania igualmente estiveram presentes em atividades culturais como as idas ao Beco do Batman e ao Instituto Tomie Otake, na Capital.

Superando temores

A educadora Maria da Graça Mizukami propaga entre as diferentes perspectivas educacionais a abordagem humanista, que valoriza a personalidade do indivíduo e suas relações interpessoais, e a abordagem cognitivista, que foca nos processos cognitivos e na capacidade do aluno de integrar e processar informações.

Para superar as limitações pessoais que os alunos sentem diante do desconhecimento da área que escolhem, o Projeto Jovens Caminhos desenvolveu técnicas específicas para enfrentar o desafio. É preciso quebrar padrões de pensamento que provocam esse temor e fazer de cada um o verdadeiro responsável pelo aprendizado de algo novo em sua vida.

Exemplo é o contrato obtido pelos ex-alunos de Arte-Educação e Grafite Vinicius Nascimento e Júlia Venture Reis, quando ainda estavam em curso, para pintar 17 metros de muro de uma loja de fantasias próximo ao Parque Regional de Santo André, na Grande São Paulo.

O contrato deixou Júlia Reis muito feliz e esperançosa de seguir em frente com intervenções em grafite, já que atuava até então com artes digitais e em paredes, como falou ao portal do Instituto Gea.

“Estava procurado um curso para me especializar mais nos desenhos em paredes que eu já fazia, mas na área do grafite não tinha vivência e prática. A melhor experiência foi ir para o muro, pois eu já tinha contato com tinta e pincel, mas nunca tinha mexido com spray”, alegra-se Júlia.

Com 22 anos de idade, Julia Reis cursava no início de 2024 o 4° período de Licenciatura em Artes Visuais no Centro Universitário Católico Ítalo-brasileiro em Santo Amaro, na Capital, onde mora. Especializar-se ao máximo dentro do mundo artístico é sua meta, seja para ampliar conhecimentos, seja para dar aulas.

“Me apaixonei pelo ensino de Arte-educação. Procuro me especializar e aprender diversas áreas como o grafite, para repassar futuramente. Pretendo ser professora de arte para ter uma renda fixa e atuar em artes em parede como uma renda extra”, diz a ex-aluna do Projeto Jovens Caminhos.

Referências:

https://vestibulares.estrategia.com/portal/atualidades-e-dicas/24-citacoes-de-paulo-freire-sobre-educacao-para-usar-na-redacao

https://www.politize.com.br/paulo-freire

http://www.apeoesp.org.br/sistema/ck/files/revistas%20educacao%20-%20janeiro%202017%20-%20ERRATA-A.pdf

https://www.webartigos.com/artigos/ensino-as-abordagens-do-processo-ensino-aprendizagem-segundo-mizukami/100300

https://www.bing.com/search?q=Como+promover+o+protagonismo+dos+alunos+em+sala+de+aula%3f&FORM=bngcht&toWww=1&redig=2A5C019D8F224F0E9B5F1D2ADBDC34DC

Mulheres escalam a muralha masculina da TI

Embora com placar ainda desfavorável de 12,3% de representação no mercado brasileiro de Tecnologia da Informação, a marcha de mulheres em TI tem avançado. Apesar desse número ainda baixo, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED-Ministério do Trabalho), houve aumento considerável de 60% na participação feminina no setor, nos últimos cinco anos, até 2022.

O curso de Programação e Criação de Sites do Projeto Jovens Caminhos, uma iniciativa do Instituto Gea – Ética e Meio Ambiente e do LASSU – Laboratório de Sustentabilidade da USP, em parceria com a Petrobras, é bem ilustrativo sobre esse crescimento. Na primeira turma, em 2023, dos 33 alunos matriculados, 21 eram mulheres, ou 60% do total. Na segunda turma, elas representaram metade dos 16 formandos.

Segundo a presidente do Instituto Gea, Ana Maria Domingues Luz, esse cenário indica que o mercado de TI não é mais exclusividade masculina. Ela se declarou especialmente feliz com a projeção feminina ao discursar na cerimônia de formatura da 2ª.Turma, em 28 de fevereiro de 2024, no auditório da FAMA (Faculdade de Mauá), na Grande São Paulo.

Um dos objetivos do Projeto Jovens Caminhos é justamente aumentar a presença feminina na área de Tecnologia. O curso conta, inclusive, com a professora Alessandra Toyama, do Laboratório de Sustentabilidade (Lassu) da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. O Lassu também coloca à disposição, gratuitamente, notebooks para os alunos que se destacam nos cursos e abre a possibilidade de cursarem  o Projeto Paideia  – curso de capacitação em informática e desenvolvimento de software, especialmente em Phyton.

“É notável o crescimento da participação feminina quando o assunto é tecnologia. É evidente que ainda temos um longo caminho, mas diante do cenário social atual, meninas têm sido mais estimuladas nesse campo que durante muito tempo pertenceu aos homens”, testemunha professora Bianca Gonçalves da Silva, que fez monitoria no Projeto Jovens Caminhos.

Oportunidade única

As oportunidades de qualificação com vários cursos de TI à disposição no mercado melhoram as perspectivas de emprego e contribuem para escalar essa muralha ainda masculina. Pietra Costa da Silva mostra que os sacrifícios valem a pena. Ela cursou Programação e Criação de Site no Jovens Caminhos em 2024 e se inscreveu no Paideia da USP.

“É uma oportunidade única que está me dando novos conhecimentos, tanto de soft skills quanto nas hard skills. Meus planos futuros são de me especializar mais na área para me tornar uma profissional completa e habilidosa”, diz Pietra, 19 anos, que trabalha na empresa americana Pactto como desenvolvedora front-end júnior.

Pietra faz curso superior em Psicologia, mas o coração pulsa mesmo pela área de Tecnologia. “O Jovens Caminhos me deu a possibilidade de aprender uma profissão nova e que está tão em alta no mundo. A programação está inserida em todas as esferas da nossa vida e a oportunidade de entender como essa área funciona foi de grande crescimento profissional”, destaca.

Muitos desafios

A jornada feminina, porém, é longa. Como em outros mercados, na TI a desigualdade de gênero ainda é um desafio, com as mulheres ganhando, em média, 14,7% menos do que os homens na indústria, segundo levantamento da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Estudo da Revelo mostra que até 2021 havia desigualdade nos níveis hierárquicos de contratação no setor de Tecnologia. O índice de vaga júnior para mulheres era de 8,69%. Já para homens ficava em 32,52%. O nível sênior apresentava 5,98% para elas, contra 30,9% para eles. Esse número era ainda mais reduzido na categoria pleno, contando com apenas 4,15% para mulheres e 17,76% para homens.

“Ainda que tenhamos avançado muito nos últimos anos, mulheres ainda sofrem com o machismo nos campos social e profissional. Os cargos de poder permanecem em mãos masculinas, tornando o mundo de maneira geral mais confortável para eles, enquanto mulheres precisam lutar muito para atingir lugares que homens chegam de maneira muito facilitada”, afirma professora Bianca Gonçalves.

A ex-aluna do Projeto Jovens Caminhos Pietra Costa comenta que, na empresa onde atua, é a única mulher desenvolvedora entre sete homens. O ambiente, porém, é harmonioso. “Não sinto preconceito vindo de meus colegas, pelo contrário, são muito solícitos e respeitosos acerca das minhas opiniões e dúvidas. Porém, entendo que muitas mulheres possam estar em situações de pré-julgamento dentro da área, mas somos fortes e resilientes o suficiente para que essa situação seja mudada para sempre”, deseja ela.

Especialistas reforçam como é importante a valorização de mulheres na tecnologia para garantir diversidade e representatividade, o que pode levar a soluções tecnológicas mais inovadoras e inclusivas. Abrir conversas, entender o papel do acolhimento e criar espaços seguros para as mulheres no ambiente corporativo são elementos fundamentais para que o círculo virtuoso de equidade faça sentido, explica Patricia Chacon, presidente da Liberty Seguros, ao falar em evento da Revista Forbes.

“Biologicamente mulheres e homens tem habilidades diferentes, por isso é importante que ambos sejam explorados em todos os campos. Mulheres na tecnologia permitem ampliar a visão, explorar novas possibilidades e a criação, além de investirem no trabalho minucioso”, destaca, a monitora Bianca Gonçalves, do Projeto Jovens Caminhos.

Entre os desafios encontrados pelas mulheres na área de Tecnologia da Informação que impedem sua plena participação e crescimento no setor, os principais são:

  • Diferenças salariais: mulheres frequentemente ganham menos do que os homens em posições equivalentes. No Brasil, como já mencionado, a diferença salarial média é de 14,7%.
  • Falta de representatividade e incentivo: a baixa presença feminina em cargos de liderança e a falta de modelos de referência dificultam a entrada e a permanência das mulheres na TI.
  • Discriminação e preconceito: muitas mulheres enfrentam preconceitos e discriminação no ambiente de trabalho, o que pode afetar sua progressão na carreira e sua autoconfiança.
  • Autocobrança e síndrome da impostora: a autocobrança excessiva e a síndrome da impostora são comuns entre mulheres na tecnologia, levando a dúvidas sobre suas próprias capacidades e potencial.

Papel das empresas

Os empregadores são considerados cruciais para a promoção da diversidade de gênero na área de TI, começando por recrutamentos que busquem ativamente candidatas mulheres e garantam igualdade de oportunidades desde a seleção até a contratação.

Há também os programas de mentoria e desenvolvimento para mulheres, ajudando-as a desenvolver suas carreiras e a alcançar posições de liderança. Consultores também apontam como eficazes os treinamentos regulares sobre diversidade e inclusão para todos os funcionários, ajudando a combater preconceitos e estereótipos no local de trabalho.

Um ambiente corporativo mais harmonioso e produtivo também pode ser alcançado com políticas de trabalho flexível que permitam um melhor equilíbrio entre vida profissional e pessoal, beneficiando especialmente mulheres que muitas vezes acumulam múltiplas responsabilidades.

Sua esperança faz memória na norte-americana Margaret Hamilton, cientista da computação e engenheira de software que desenvolveu o código usado para identificar aeronaves inimigas. “A área de TI começou como um campo majoritariamente masculino, mas com presenças ímpares de mulheres como Margaret Hamilton, que programou a expedição Apollo 11, acredito que, mesmo não tendo muita presença antigamente, as mulheres souberam se destacar em projetos importantes”, destaca.

Nos últimos 200 anos, algumas mulheres tiveram papéis importantes ao criar componentes fundamentais de computadores, desenvolver tecnologias como o Wi-Fi, programar sistemas inovadores e até mesmo se tornarem pioneiras em alguns dos maiores feitos da NASA. Dois destaques são:

  • Grace Hopper (1906-1992), cientista da computação que inventou a primeira linguagem de programação. Após ingressar na Marinha dos EUA durante a 2ª Guerra Mundial, ela liderou a equipe que criou o primeiro compilador de linguagem de computador, conhecido como linguagem COBOL.
  • Hedy Lamarr (1914-2000), conhecida como a mãe do Wi-fi, desenvolveu uma técnica para comunicação de espectro espalhado, que deu origem à tecnologia sem fio. Com George Antheil, um compositor, Lamar criou dispositivo de sinalização de rádio (Sistema Secreto de Comunicações) que mudava as frequências de rádio para que nazistas alemães não pudessem decodificar as mensagens.

 

Referências:

1 – https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/mulheres-ganham-147-a-menos-do-que-homens-na-industria-mostra-fiesp/

2 – https://assets-global.website-files.com/5e665d441fbc681e68fe21f6/62d9bb3549788b67af2c2032_EBook%20-%20Mulheres%20e%20o%20mercado%20de%20Tecnologia%20em%202021_FINAL.pdf

3 – https://forbes.com.br/forbes-tech/2022/05/brandvoice-como-ressignificar-o-papel-da-mulher-na-tecnologia-e-alta-lideranca/

https://tibahia.com/artigos/empresas-de-tecnologia-e-seu-papel-na-promocao-da-igualdade-de-genero/

https://www.mindtek.com.br/2024/04/mulheres-na-tecnologia/

6  https://www.vittude.com/blog/mulheres-na-tecnologia-os-desafios-femininos-no-setor/

Como a tecnologia mobilizou moradores para a limpeza comunitária

A experiência de muitos jovens e adultos com o Projeto Jovens Caminhos, parceria entre Instituto Gea/LASSU-USP com a Petrobras é exemplo inspirador de superação de desafios pessoais. Os alunos encontram maneiras de fazer mudanças significativas em suas vidas, criam amizades e continuam a compartilhar seus aprendizados para inspirar os outros em situações semelhantes.

Aluna da primeira turma, em 2023, do curso de Programação e Criação de Sites do Projeto Jovens Caminhos, V.P.S., 40 anos, descobriu uma forma eficiente de colocar a tecnologia a serviço da comunidade. Uniu os conhecimentos adquiridos nas aulas de TI e nas oficinas de cidadania, e mobilizou a vizinhança, por meio de uma planilha de Excel e do aplicativo WhatsApp, para conseguir a limpeza da viela onde mora no Jardim Oratório, em Mauá, na Grande São Paulo.

Este estudo de caso se propõe a expor a iniciativa da ex-aluna do Projeto Jovens Caminhos, a dinâmica que utilizou para solucionar um problema que havia identificado há tempos na sua região e a forma como aplicou, na prática, as habilidades técnicas e éticas adquiridas durante o curso.

Estudo de caso, segundo a literatura,é uma metodologia de pesquisa utilizada para explorar um fenômeno, situação ou indivíduo em seu contexto real. Geralmente, envolve coleta e análise de dados qualitativos e quantitativos. O objetivo é investigar um caso ou problema específico para entender melhor suas características, dinâmicas e implicações, conforme descreve a obra Estudo de Caso: Planejamento e Método, de Robert K. Yin. Considerado um dos principais textos sobre o assunto, o livro detalha a estratégia de pesquisa, respondendo às perguntas “como” e “por que” e focando em contextos da vida real.

Lixo para todos os lados

O problema identificado por V.P.S. era a frequente dispersão de lixo na rua onde reside, seja porque cães rasgavam os sacos plásticos em busca de restos de alimentos ou porque catadores de reciclados “garimpavam” os materiais que lhes interessavam nos sacos dispostos na rua, sem colocar de volta os rejeitos, o que não teria valor de venda. Some-se a isso a proximidade com uma praça que atrai reuniões e festas, culminando em grande quantidade de copos, plásticos e garrafas largados pela área.

Incomodada com esse cenário, a ex-aluna viu uma oportunidade de requalificar o espaço público e melhorar as perspectivas de onde reside ao conscientizar os vizinhos sobre a necessidade de uma ação coletiva: cada qual ficaria incumbido de, semanalmente, fazer a varrição e coleta do lixo jogado pela rua, tarefa que seria organizada e conhecida de todos os envolvidos em uma planilha eletrônica, renovada a cada mês.

Além do aprendizado técnico, os cursos do Projeto Jovens Caminhos englobam Oficinas de Cidadania, Meio Ambiente e Direitos Humanos, incentivando a reflexão sobre a importância de valores éticos e socioambientais, preparando os estudantes para se perceberem como agentes capazes de promover mudanças na sociedade.

“A planilha foi desenvolvida num programa de Excel e nomeamos moradores a cada semana para recolher e ensacar o lixo da rua. Fiz os convites individualmente. Então, cada morador se encarregaria uma vez por mês da limpeza, até porque não temos lixeira comunitária”, conta ela.

No livro Excel ® (3 em 1), o autor Luiz Felipe Araujo destaca, entre as inúmeras facilidades dessa ferramenta, a fórmula que automatiza tarefas repetitivas. Essa fórmula agiliza o trabalho e aumenta a produtividade de quem a usa. Além disso, o visual e os comandos do Excel são de fácil entendimento, o que explica a adesão da maior parte dos moradores ao projeto idealizado.

O Excel foi desenvolvido pela Microsoft e lançado em 1985, inicialmente para computadores Macintosh. Uma planilha de Excel facilita a organização de tarefas por várias razões:

  • Visualização clara: pode-se ver todas as tarefas em um só lugar, organizadas em linhas e colunas, o que facilita o entendimento do que precisa ser feito.
  • Classificação e filtragem: é possível classificar e filtrar tarefas por data, prioridade, status ou qualquer outro critério.
  • Fórmulas e funções: Excel permite o uso de fórmulas para calcular prazos, somar horas trabalhadas, ou até mesmo gerar gráficos de progresso.
  • Personalização: pode-se personalizar a planilha de acordo com as necessidades, adicionando cores, formatações condicionais e diferentes tipos de dados.
  • Compartilhamento: planilhas podem ser facilmente compartilhadas, permitindo colaboração em tempo real.

Já o Whatsapp é um aplicativo de mensagens criado em 2009 por Brian Acton e Jan Koum, ex-funcionários do Yahoo. Eles buscavam uma forma de facilitar a comunicação com amigos e familiares, especialmente para evitar os altos custos das ligações internacionais. O app envia textos, áudios, vídeos, fotos, documentos e até realiza chamadas de voz e vídeo pela internet. Também oferece recursos como compartilhamento de localização em tempo real e criação de grupos de conversa.

Apesar da fácil funcionalidade proporcionada pela tecnologia, a iniciativa da ex-aluna de Programação e Criação de Sites não foi poupada de alguns percalços:

“Um morador que havia aderido acabou não cumprindo com sua semana. Disse que era analfabeto e não entendia minha planilha. Teve também o episódio em que uma das vizinhas viajou e não avisou. Aí a sujeira se acumulou. Acabei desanimando e deixando de fazer as planilhas, que eram montadas no início de cada mês e enviadas no grupo. Continuei fazendo a minha parte, uma semana por mês… Então percebi que o grupo havia assimilado o hábito e, independente da planilha, cada morador continuou se disponibilizando uma semana por mês. Outros vizinhos se somaram, vendo que o benefício era para todos”, relata V.P.S., agente escolar formada em Administração.

Tecnologia e inclusão social

Na obra Tecnologia e Inclusão Social: A Exclusão Digital em Debate, Mark Warschauer relata como as tecnologias de informação e comunicação (TICs) podem ser ferramentas poderosas para promover a inclusão social. Warschauer argumenta que a exclusão digital não é apenas não ter acesso a dispositivos e internet, mas também não poder usar essas tecnologias de maneira significativa, seja em contextos educacionais, econômicos ou sociais, para integrar e reduzir desigualdades.

Entre as maneiras pelas quais a tecnologia contribui para a inclusão social, pode-se destacar para este estudo de caso:

  • Acesso à informação: a internet e os dispositivos móveis permitem que pessoas de diferentes contextos socioeconômicos acessem informações, educação e serviços essenciais, independentemente de sua localização geográfica.
  • Comunicação e conexão: redes sociais e aplicativos de comunicação permitem que pessoas se conectem e mantenham relacionamentos, independentemente de barreiras físicas ou sociais. Isso é especialmente importante para comunidades marginalizadas ou isoladas.

Entre as melhorias obtidas após a implementação da planilha eletrônica de V.P.S. e seu compartilhamento por aplicativo podemos sublinhar que a viela, na maioria das vezes, fica limpa pela eficiência na coleta de lixo e a satisfação dos moradores.

“A satisfação veio de ver outros moradores, que antes deram para trás no convite, participando do projeto, entendendo que o benefício de uma rua limpa é coletivo. O lixeiro não recolhe restos que ficam no chão, por isso é importante a limpeza e organização do lixo em sacos. Essa mobilização também evita que o lixo espalhado na rua acabe nos bueiros, entupindo a rede das águas de chuva”, conta ela, acrescentando:

“Nossa viela fica na frente de uma praça, onde são frequentes reuniões e festas que acabam em copos, plásticos e garrafas deixados no chão. Por isso, a próxima mobilização é por uma lixeira comunitária, para centralizar num só espaço os descartes. Hoje o lixo reunido em sacos é colocado na calçada no início da viela, ainda sujeito aos ataques de cachorros e manuseio errado dos catadores de rua”.

Outra possível melhoria resultante da iniciativa é que a ex-aluna começou a acondicionar objetos recicláveis em sacos transparentes. Assim, fica mais fácil para os recicladores identificarem e não rasgarem embalagens com lixo orgânico. Mais uma semente que ela aguarda para ver frutificar.

Lixo recolhido e embalado pelos moradores

Aparência da viela, totalmente limpa, pela participação comunitária dos moradores

Referências:

https://www.inlivros.net/excel/

https://tecnoblog.net/responde/whatsapp-historia-principais-recursos-e-como-funciona-o-mensageiro

https://www.academia.edu/99662039/Warschauer_Mark_Tecnologia_e_inclus%C3%A3o_social_a_exclus%C3%A3o_digital_em_debate_S%C3%A3o_Paulo_Editora_Senac_S%C3%A3o_Paulo_206_214_p

https://fia.com.br/blog/estudos-de-caso

Jovens Caminhos e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU

Por Raquel Lima Ramos,

coordenadora do Projeto Jovens Caminhos

Em 2015, a Cúpula das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável deu um passo ousado ao estabelecer 17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) para o mundo atingir até 2030, contendo 169 metas. Trata-se de um apelo global para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade.

São 17 objetivos considerados ambiciosos e interconectados, que abordam os principais desafios que causam acentuada inquietação em todos os cantos do planeta e que convidam a todos a fazer sua parte, por menor que pareça. O Projeto Jovens Caminhos, uma parceria do Instituto Gea-Ética e Meio Ambiente  com a Petrobras, abraçou três dos 17 ODS tendo como principal pilar a educação de jovens e adultos estabelecidos em regiões socioeconômicas vulneráveis da Grande São Paulo.

O Instituto Gea entende que a educação amplifica as oportunidades de ascensão econômica e social, e o resultado tem sido muito animador nestes dois anos de atividades, em 2023-2024. Para além de ensinar habilidades técnicas em Tecnologia e Artes, as duas áreas do conhecimento abrangidas pelo projeto, os cursos transmitem conceitos em educação socioambiental, cidadania e valores éticos.

A Equipe de País (conhecida por sua sigla em inglês UNCT) é o braço que maximiza o trabalho das Nações Unidas no marco dos ODS e dos demais compromissos internacionais. São três os Objetivos apoiados pelo Projeto Jovens Caminhos: 4, 5 e 17.

1.       Erradicação da pobreza

2.       Fome zero e agricultura sustentável

3.       Saúde e bem-estar

4.       Educação de qualidade

5.       Igualdade de gênero

6.       Água potável e saneamento

7.       Energia limpa e acessível

8.       Trabalho decente e desenvolvimento econômico

9.       Indústria, inovação e infraestrutura

10.     Redução das desigualdades

11.     Cidades e comunidades sustentáveis

12.     Consumo e produção responsáveis

13.     Ação contra a mudança global do clima

14.     Vida na água

15.     Vida terrestre

16.     Paz, justiça e instituições eficazes

17.    Parcerias e meios de implementação

Educação inclusiva

Os ODS aglutinaram os temas em quatro dimensões: social (relacionadas à saúde, educação, melhoria da qualidade de vida e justiça), ambiental (ligadas à preservação e conservação do meio ambiente, proteção das florestas e biodiversidade, uso sustentável dos oceanos etc), econômica (abordando temas como consumo de energia) e institucional (ou seja, a capacidade de colocar em prática as ODS).

O ODS 4 tem como foco a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, que promova oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos. A alfabetização de jovens e adultos e a qualificação para o mercado de trabalho são algumas das principais metas desse objetivo.

O movimento internacional AIESEC, que busca por meio da liderança jovem despertar as potencialidades humanas através de intercâmbio de conhecimentos, chama a atenção para o grande número de escolas fechadas ou sem condições de receber alunos, seja pela infraestrutura precária ou pela falta de profissionais capacitados para nelas atuar. Esse cenário impede que jovens concluam a educação básica, desenvolvendo suas potencialidades individuais desde a infância até o ensino técnico e superior.

“Para o atingimento do ODS 4, é necessário haver instalações adequadas para o ensino e professores aptos a transmitir aos estudantes princípios importantes de cidadania, valorizando a diversidade e o desenvolvimento sustentável”, atesta.

O Projeto Jovens Caminhos atua buscando não apenas a educação de qualidade, mas um modelo para desenvolver outras habilidades pessoais em jovens e adultos enquanto transmite conhecimentos.

Para o curso de Programação e Criação de Sites, realizado em parceria com o LASSU – Laboratório de Susteantabilidade da USP (Universidade de São Paulo), os alunos são orientados por professores do próprio laboratório e recebem monitoria com profissional formada também em Ciências da Computação. Para turmas de Arte-Educação e  Grafite, as aulas são dadas por grafiteiros com experiência de mais de 15 anos e a monitoria conta com professor e arte-educador formado em Antropologia.

Além disso, os dois cursos contemplam 12 horas de aulas de Ética e Cidadania com professora mestre em Biologia e doutora em Saúde Pública e Ambiental, que aborda uma a agenda diversificada: resíduos, água, consumismo, direitos humanos, protagonismo e cidadania digital.

Mulheres empoderadas

O ODS 5 prevê alcançar a igualdade de gênero e empoderar mulheres e meninas. Algumas das metas deste objetivo incluem não dar trégua a todas as formas de discriminação contra mulheres, eliminar a violência de gênero e promover a participação feminina plena na sociedade e no trabalho.

Relatório da Universidade de São Paulo mostra que a igualdade de gênero se refere sobretudo à igualdade em direitos, responsabilidades e oportunidades das mulheres.

“Ainda vivemos em uma sociedade muito desigual em relação ao gênero e enfrentar esse quadro é fundamental para a existência de uma sociedade sustentável e justa”, lembra o artigo, que ainda aponta sérios obstáculos às mulheres em frentes como: excessiva carga de trabalho doméstico a partir do compartilhamento de tarefas e de oferecimento deficitário de serviços públicos (restaurantes e cozinhas coletivas e creches, por exemplo); violência contra mulheres e meninas; garantia de direitos reprodutivos e sexuais; discriminação baseada em raça, etnia, deficiência e cultura; pouca participação feminina na política.

Estatísticas mostram que as mulheres tentam conciliar, de modo bastante desigual, os afazeres domésticos e cuidados de pessoas com o trabalho remunerado. O estudo “Estatísticas de Gênero: Indicadores Sociais das Mulheres no Brasil”, publicado pelo IBGE em março de 2024, mostra que, em 2022, as mulheres dedicaram em média 21,3 horas semanais aos afazeres domésticos e cuidando de pessoas. Já os homens gastaram bem menos: 11,7 horas fazendo a mesma coisa.

Em muitos casos, mulheres só conseguem empregos que ocupem menos horas durante a semana. Em 2022, 28% das mulheres trabalhavam em tempo parcial (de até 30 horas semanais), quase o dobro (14,4%) do verificado para os homens. A taxa de participação delas no mercado de trabalho foi de 53,3%, enquanto a dos homens foi bem maior: 73,2%.

Se no trabalho a situação das mulheres ainda é desigual quando comparada aos homens, o estudo aponta melhora quando o assunto é educação. Em 2022, pelo menos 92,5% de meninas de 15 a 17 anos estudavam, contra 91,9% de meninos na mesma faixa etária. Na população com 25 anos ou mais de idade, 35,5% dos homens não tinham instrução ou possuíam apenas Ensino Fundamental incompleto, contra 32,7% das mulheres.

No cenário de igualdade de gênero, o Projeto Jovens Caminhos dá sua contribuição de forma singular. Ambos os cursos são oferecidos a todos maiores de 16 anos, ou seja, o ponto de partida para uma profissão, e notamos grande número de mulheres inseridas tanto em Artes-Grafite como em Programação e Criação de Sites.

Até junho de 2024, conseguimos formar 88 homens e 72 mulheres, totalizando 160 alunos contemplados. Nos três últimos cursos, com previsão de formatura em dezembro de 2024, temos em Programação 14 homens e 24 mulheres; em Grafite, 5 homens e 13 mulheres.

Parcerias e meios de implementação

Já o ODS 17 reúne iniciativas dos demais Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, com propostas de ações coletivas e parcerias para o desenvolvimento global. As metas do ODS 17 estão agrupadas em cinco temas: Recursos financeiros, Transferência de tecnologia, Construção de capacidades, Acesso a mercados e Questões sistêmicas.

O Projeto Jovens Caminhos se identifica com o subitem 17.17 deste ODS, pelo qual o tema da Construção de capacidades se dá pelo incentivo e promoção de parcerias públicas, público-privadas e com a sociedade civil a partir de mobilização de recursos dessas parcerias.

Para que o Projeto pudesse ser bem aceito e inserido nas comunidades, o Instituto Gea realizou diversas alianças com escolas e associações locais dos municípios de Mauá e Santo André, na Região Metropolitana de São Paulo. Essas instituições tiveram a compreensão do momento e se dispuseram a ser o fio condutor que uniu Instituto Gea e alunos.

Há sempre um contato inicial, agendamento de reunião e apresentação da iniciativa. Após esses locais entenderem do que se trata, os transformamos em pontos importantes de divulgação e contato com os alunos. A acolhida foi muito gratificante. Lembramos que o Projeto não tem local fixo. Por ser itinerante, depende muito de parcerias.

Abaixo, os locais onde os cursos foram realizados:

Programação e Criação de Sites

T 01: Associação Amigos do Jardim Oratório, Mauá, SP

T 02: Associação Amigos do Jardim Sônia e Sílvia Maria, Mauá, SP

T 03: Centro Público de Formação Profissional João Amazonas, Santo André, SP

T 04: Paróquia São Luiz Gonzaga, Mauá, SP

Artes Grafite

T01: Associação Amigos do Jardim Oratório, Mauá, SP

T02: Casa do Hip Hop Mauá , Mauá, SP

T03: Associação Amigos do Jardim Sônia e Sílvia Maria, Mauá, SP

T04: Associação Amigos do Jardim Sônia e Sílvia Maria, Mauá, SP

T05: Centro Público de Formação Profissional João Amazonas, Santo André, SP

T06: Centro Público de Formação Profissional João Amazonas, Santo André, SP

T 07: Associação Amigos do Bairro Vila Magini, Mauá, SP

T 08: Associação Amigos do Bairro Vila Magini , Mauá, SP

As pessoas e as associações foram fundamentais para a execução do Projeto Jovens Caminhos. Estabelecemos boas parcerias e sempre temos a oportunidade de retorno nessas comunidades. Vários jovens e adultos seguiram carreira ou simplesmente tiveram um primeiro contato com Tecnologia e Grafite, como podemos conferir nas entrevistas ao portal do Instituto Gea: https://institutogea.org.br/category/noticias/novidades/

Referências

https://www.fsp.usp.br/sustentarea/2020/08/22/ods-5-igualdade-de-genero

https://educa.ibge.gov.br/criancas/brasil/atualidades/20459-mulheres-brasileiras-na-educacao-e-no-trabalho.html

https://www.ipea.gov.br/ods/ods17_card.html

https://brasil.un.org/pt-br/sdgs

Impactos do Projeto Jovens Caminhos em comunidades de Mauá e Santo André

Reduzir as fronteiras sociais e econômicas de um país gigante como o Brasil é jornada que desafia diariamente governos, cidadãos comuns e organizações do Terceiro Setor.  Pensando nisso, o Instituto Gea – Ética e Meio Ambiente, organização sem fins lucrativos que há 25 anos trabalha pela educação ambiental, cidadania responsável e práticas sustentáveis, incluiu em sua missão o aprendizado de jovens e adultos nas áreas de Tecnologia da Informação e Artes, oferecendo-lhes qualificação profissional. A parceria com o LASSU – Laboratório de Sustentabilidade da Universidade de São Paulo foi um apoio importante nessa iniciativa.

Assim nasceu o Projeto Jovens Caminhos, uma ação de inclusão social com a parceria e financiamento da Petrobras, oferece treinamento técnico gratuitamente em Programação e Criação de Sites e em Arte-Educação e Grafite para a população mais vulnerável. O objetivo é incentivar uma profissão ou estimular uma fonte de renda familiar.

Nos dois anos de atividades, em 2023 e 2024, o projeto recebeu 297 inscritos nos dois cursos; 204 receberam certificados de conclusão. Mais do que números, porém, o Jovens Caminhos deixou muitas lições que vão marcar a agenda de vida de seus alunos, sempre desafiados a pensar “fora da caixinha” seja na sala de aula ou nos trabalhos de campo. Disciplinas como Ética, Cidadania e Sustentabilidade foram agregadas pelo Instituto Gea às aulas técnicas sobre Grafite e Programação e Criação de Sites.

A escolha das cidades de Mauá e Santo André, na Região Metropolitana de São Paulo, se deu em função da parceria com a Petrobras, que tem unidades de refino nessas localidades. São municípios populosos integrantes do ABC paulista, com 420 mil e 750 mil habitantes, respectivamente, unidos por densa periferia que forma um único e imenso espaço geográfico urbano.

O treinamento de jovens e adultos em situação de fragilidade social e econômica recebeu imediata adesão dos poderes públicos e instituições civis locais.

“Acredito muito em projeto de qualificação profissional. Foi muito satisfatório ter contribuído de alguma forma, seja na divulgação ou emprestando o espaço para que o curso acontecesse, ajudando as famílias vulneráveis. Foi muito bom observar jovens, adultos e idosos aproveitando a oportunidade, em que o maior investimento deles foi seu tempo e interesse, tendo acesso a um curso de qualidade, gratuito e ainda próximo a suas residências”, testemunha Márcia Teixeira da Silva, coordenadora do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) Jardim Oratório, da Prefeitura de Mauá.

Para além da teoria

O segredo da equação do Projeto Jovens Caminhos é aliar uma equipe engajada de monitores e professores, eficiência na operação com aulas práticas para além da teoria, além de colocar o aluno no centro do aprendizado, sentindo-se acolhido. Todos são incentivados a ser protagonistas dessa jornada, estimulados ao questionamento do que aprendem e à responsabilidade cidadã.

Foi assim com as inúmeras intervenções das turmas de Arte –Educação/ Grafite em espaços públicos das cidades ou em visitas ao Instituto Tomie Otake e ao Laboratório de Sustentabilidade (LASSU) da Universidade de São Paulo, na Capital. No LASSU, alunos de Programação e Criação de Sites conheceram o Centro de Reciclagem de Resíduos Eletroeletrônicos, aprendendo como deixar o planeta Terra mais limpo.

Em Santo André, os muros do Centro de Formação Pública João Amazonas e da ONG Seci (Instituto Socioesportivo, Educacional, Cultural e Inovador) receberam alegres pinceladas dos alunos de Grafite com temas sobreproteção ao meio ambiente, exibindo como essaarte na periferia é importante para despertar conscientização e cidadania.

A CaptaBIT, plataforma que faz intermediação entre captadores e doadores de recursos para o Terceiro Setor, define projetos sociais como iniciativas que almejam gerar transformações positivas em uma comunidade ou grupo específico, lidando com questões como educação, saúde, inclusão social e sustentabilidade. “Projetos sociais são o coração pulsante de uma sociedade mais justa e equilibrada, onde cada ação conta na construção de um futuro melhor”, salienta.

Instituição que orienta para processos seletivos, o IDESG (Instituto de Desenvolvimento Social, Gestão e Tecnologia), destaca que projetos sociais são importantes porque contribuem para redução das desigualdades, promoção da cidadania, conscientização social e transformação coletiva. “Existem diversos exemplos de projetos sociais que fazem a diferença na vida de milhares de pessoas, como os que oferecem alimentação, educação, saúde, moradia, cultura e lazer, entre outros”, enumera.

De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), os índices de desigualdade no Brasil aumentaram consideravelmente. Isso porque, de toda a renda do País, 40% estão concentrados nas mãos de 10% da população. Outros dados recentes revelam que o Brasil tinha 31,6% da população em situação de pobreza (até meio salário-mínimo por mês) em 2022, enquanto a proporção de pessoas em extrema pobreza (menos de R$ 200 mensais) era de 5,9%.

Em 2022, havia 67,8 milhões de brasileiros na pobreza e 12,7 milhões na extrema pobreza. A renda dos 10% mais ricos é mais de 14 vezes maior do que a renda dos 40% mais pobres, mostram dados da PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE.

Márcia Teixeira da Silva conta sobre a condição de um dos alunos: “Após a finalização do curso no Jardim Oratório, foram abertas inscrições para uma nova turma, que foi no Jardim Sônia Maria, ainda em Mauá, mas um pouco distante do Jardim Oratório. Uma mãe nos pediu ajuda financeira, pois seu filho, portador de deficiência, estava interessado no curso, mas  a família não tinha condições de pagar o transporte. E nós, enquanto CRAS, conseguimos proporcionar benefício eventual para que esse garoto pudesse frequentar as aulas e ele cursou direitinho, do início ao fim”.

Sobre a importância da iniciativa do Instituto Gea-Lassu-Petrobras junto a comunidades mais fragilizadas, ela destacou: “Pude observar que alguns adultos e idosos aproveitaram essa oportunidade como poucas que tiveram ao longo da vida e também mães que fizeram a inscrição de seus filhos e ficaram muito orgulhosas com isso, com o curso e com a formatura, que foi bastante simbólica e significativa para as famílias”.

Kely Cristina de Andrade Schiavone, diretora do Centro Público de Formação Profissional João Amazonas, em Santo André, outra parceria estabelecida com o Projeto, sublinha:

“O impacto foi muito grande na comunidade e na vida desses jovens, que aprenderam que o caminho da educação é o correto, seja da educação artística ou da tecnologia. Eu não só fui beneficiada enquanto diretora da unidade escolar, em ver jovens e adultos com uma formação profissional, mas também como mãe, pois meu filho participou do curso de Programação – Criação de Sites e hoje faz especialização no Paideia da USP (Universidade de São Paulo), outra oportunidade fabulosa do Jovens Caminhos aberta aos alunos. Foi incrível também os melhores das turmas terem ganho computadores pelo Projeto, o que sem dúvida fez toda a diferença na vida deles”.

Kely Schiavone aponta para a missão do Projeto Jovens Caminhos, que foi ao encontro dos objetivos do Centro Público João Amazonas de dar formação qualitativa para moradores de baixa renda em Santo André, que nem sempre têm oportunidade de acesso a bons cursos. “Foi um imenso prazer recebê-los e teremos sempre portas abertas ao Projeto. Só temos elogios a fazer porque a equipe é incrível, com bastante profissionalismo e comprometida”, citou.

Mudanças positivas

Como se constrói um projeto social de impacto, ou seja, que gere mudança positiva na vida das pessoas? É necessário entendimento claro das necessidades da comunidade, planejamento estratégico e busca por recursos que viabilizem a iniciativa, segundo enumera a plataforma CaptaBIT. Algumas perguntas essenciais que devem ser respondidas antes de iniciar um projeto são:

  • Quem irá ajudar?
  • O que irá fazer?
  • Por que vai fazer?
  • Para que vai fazer?
  • Como vai fazer?
  • Com quem vai fazer?
  • Quando vai fazer?
  • Onde vai fazer?

A percepção de Márcia Teixeira, do CRAS Jardim Oratório, resume a linha de ação do Projeto Jovens Caminhos:

“Como boa observadora, acredito que o conjunto de tudo o que foi oferecido foi motivador para os jovens, desde os materiais personalizados como camiseta, boné, mochila e planner, até as aulas interativas, com boa didática e dinâmicas de grupo. Tem também o acolhimento de toda a equipe envolvida, pelo tratamento respeitoso e humano junto aos alunos, lanchinho ofertado no intervalo, aula teórica e prática nos computadores e ainda poder ser sorteado no final do curso para ganhar um computador, penso que esse todo fez e faz o Projeto Jovens Caminhos um diferencial na comunidade”, define ela.

Kely Schiavone, do Centro João Amazonas de Santo André, reforça: “Iniciativas como a do Instituto GEA-Petrobras tiram jovens das ruas e até da marginalidade, direcionando-os a uma profissão. Tivemos alunos aqui que hoje ganham dinheiro fazendo grafite. Saíram do curso já trabalhando”, afirma. Um exemplo é a jovem Júlia Ventura Reis, cujo primeiro contrato profissional a levou a grafitar muro de 17 metros de uma loja de fantasias, antes mesmo de se formar, em junho de 2024.

Outros alunos em Santo André deram continuidade ao aprendizado profissionalizante fazendo depois cursos no próprio Centro João Amazonas como o de Assistente de RH, Recepcionistas e Empreendedorismo, aponta a diretora. “Temos dois que estão cursando agora Cabeleireiro Básico”, cita.

Beatriz Ferreira e Hamilton Rocha Silva, dirigentes da Associação dos Moradores do Jardim Oratório, em Mauá, afirmam que o Projeto Jovens Caminhos causou influência tão significativa em 2023, quando foi alí realizado, que moradores continuaram a procurar a entidade em 2024 em busca de novas turmas.

“Foi um projeto pioneiro para nós, de formação profissional em grafite e em tecnologia, já que até agora oferecíamos mais ações sociais, como aulas de balé e capoeira, células de religião, café da manhã com crianças aos sábados, além de entregarmos leite do governo e hortifruti da Prefeitura”, contam, testemunhando também a recepção que os cursos tiveram junto aos participantes:

“Foi importante porque sentimos que todos demonstraram muita vontade em aprender para serem bons profissionais. Também notamos a dedicação dos professores e monitores e a qualidade do ensino realizado”.

Kely Schiavone, de Santo André, endossa a experiência: “Até hoje, de todos os projetos sociais que tive oportunidade de presenciar, o Jovens Caminhos é sem dúvida nenhuma o mais qualitativo e com profissionais de excelência inigualável.  Espero que possamos ter mais projetos assim”.

Referências:

https://www.captabit.com.br/projetos-sociais-de-impacto-como-cria-los-com-sucesso/
https://idesg.org.br/2023/11/02/o-que-e-um-projeto-social-como-elaborar-e-sua-importancia-na-sociedade/
https://www.ipea.gov.br/portal/categorias/45-todas-as-noticias/noticias/13909-estudos-revelam-impacto-da-redistribuicao-de-renda-no-brasil#:~:text=O%20Brasil%20%C3%A9%20conhecido%20por,pa%C3%ADses%20mais%20desiguais%20do%20mundo
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/38545-pobreza-cai-para-31-6-da-populacao-em-2022-apos-alcancar-36-7-em-2021#:~:text=O%20percentual%20de%20pessoas%20em,7%20milh%C3%B5es%20na%20extrema%20pobreza